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Apresentação do livro:

O Mundo Que Eu Vi

– Peter - Café Sport, cidade da Horta, 20 de Maio de 2011 –

Texto: Luís Prieto Ferreira
Adiaspora.com

 

 

Muito já vimos (na televisão), ouvimos (na rádio) e lemos (na imprensa) sobre as viagens de circum-navegação de Genuíno Madruga.

A partir de hoje, com a edição desta publicação, provinda do punho do próprio navegador, podemos também acompanhar as suas aventuras, ao pormenor, sentir as suas dificuldades, conhecer as suas angústias, valorizar (ainda mais) a sua tenacidade e saborear a coragem de um homem que no mar personifica a determinação de muitos de nós, portugueses e açorianos, marítimos ou não, dos nossos dias e de outrora…

Genuíno Madruga completou em Junho de 2009, nas Lajes do Pico, a sua segunda viagem de circum-navegação, em solitário e à vela, uma jornada marítima que havia iniciado em Agosto de 2007 também na vila baleeira da ilha montanha.

O fio condutor deste livro é, precisamente, esta viagem – muito mais extensa, exigente, perigosa e heróica que a primeira – mas, na realidade, a sua “volta ao mundo” inicial, empreendida entre Outubro de 2000 e Maio de 2002 (com partida e regresso à cidade da Horta), é igualmente presença constante no relato que agora nos é apresentado neste livro.

Fica-se, até, com a sensação que a circum-navegação concluída no sábado de Espírito Santo, 18 de Maio de há nove anos, foi um teste, a preparação para uma odisseia maior, iniciada há quatro anos, e que levaria o veleiro «Hemingway» ao Sul do Brasil, ao Uruguai, à Argentina, ao Chile, à ilha de Páscoa, mas, sobretudo, ao Cabo Horn (o desafio maior para qualquer navegador mundial) e a Timor-Leste, neste caso pela simbologia da escala na mais recente nação luso-falante e pela recepção ao mais alto nível do Estado local. [Recorde-se que Genuíno Madruga foi recebido em Díli pelo Presidente da República e Prémio Nobel da Paz, José Ramos Horta, tendo tido ainda a especial honra de ter esta figura incontornável da história da lusofonia a bordo do seu iate e contar, ademais, com o mais alto magistrado da pátria timorense no acompanhamento da largada da ilha do crocodilo!] Nesta sua última viagem Genuíno Madruga foi também recebido pelos embaixadores de Portugal em Buenos Aires/Argentina, Díli/Timor-Leste e Pretória/África do Sul e escalou São Luís do Maranhão, primeira terra brasileira para onde os açorianos emigraram, há três séculos atrás.

Será que a primeira volta ao mundo do «Hemingway» abriu o apetite do seu patrão/skipper para uma aventura maior, a conquista derradeira, pela travessia do Cabo Horn, de oriente para ocidente, contra as correntes e ventos predominantes, ao invés da rota aconselhável e até ao contrário do trajecto realizado pela esmagadora maioria dos veleiros e velejadores que se lançam nessa que se pode catalogar – como se diz das façanhas em montanha, por parte dos alpinistas – uma “conquista do inútil”, não no sentido de ser acto sem sentido, valor ou utilidade, ou quiçá tresloucado, mas sim pelo facto da motivação para o feito ficar, em última análise, na esfera íntima dos respectivos protagonistas, mesmo que as razões, se publicamente expostas, possam ser mais ou menos compreensíveis?…

Seja como for, o texto que hoje nos é dado a conhecer embora siga, na base, o itinerário da circum-navegação via Cabo Horn, a verdade é que nos leva também ao longo da viagem – a primeira – que se processou através das Caraíbas, do Canal do Panamá e das ilhas Galápagos.

«O Mundo Que Eu Vi» é escrito em linguagem simples, sem delongas despropositadas, mas com evidente precisão, alto sentido apelativo e com uma característica que o torna viciante: faz-nos viajar com o autor, ao seu lado, no seu veleiro, leva-nos a sentir as dificuldades, angústias e temores do navegador Madruga, mas também as alegrias e satisfações por cada milha ultrapassada, o prazer do reencontro de pessoas conhecidas na viagem inaugural e a emoção de travar contacto com gentes tão distantes e diferentes de nós e com alguns altos responsáveis comunitários, sociais e políticos que foram sendo encontrados / conhecidos / contactados ao longo dos dois percursos em redor do globo.

A publicação neste dia editada pela VerAçor – empresa que se saúda, pela aposta agora materializada – terá dois tipos de destinatários primordiais: aqueles que seguiram, de alguma forma, as travessias oceânicas do nosso “aventureiro-mor” e que aqui procuram informação adicional ou a recordação de notícias já do seu conhecimento anterior e, por outro lado, todos quantos pouco ou nada saibam das rotas do «Hemingway» por todos os mares do mundo e que agora podem conhecer o seu G(g)enuíno protagonista, segundo português e primeiro açoriano a concluir uma viagem de circum-navegação à vela em solitário e primeiro cidadão nacional a fazê-lo com escala na ilha de Hornos (Horn) e o seu temível cabo, cemitério de muitos marítimos, certamente provindos de grande parte das nações do planeta, última fronteira austral das Américas, terra e mar de tempestades, confluência de oceanos em confronto permanente de águas, de neve, de gelo e de icebergues… Mar, também, de golfinhos brancos.

Como se sabe, acompanhámos as viagens de Genuíno Madruga semana a semana, sem falta, por via da realização de um programa de rádio (quer em 2000/2002, quer em 2007/2009), primeiro na Antena 9, da Horta, depois, em cadeia, em sete estações, das Flores a Santa Maria. Seguimos também, diariamente, o desenrolar das aventuras e desventuras do veleiro «Hemingway», pela página na Internet, sempre prontamente fornecida de novidades pelo Marco Dutra e pelos contactos frequentíssimos com o comunicador “oficial” desde terras açorianas para bordo do iate de Genuíno Madruga, José António Mourinho, radioamador faialense sempre ao leme, nas horas certas, da sua estação de ondas hertzianas de alta frequência (HF). Mantivemos conversas regulares, igualmente, com o comandante Marco Madruga e com a Beatriz Moraes Madruga.

Dir-se-ia: para quem seguiu, assim, as duas aventuras deste pequeno veleiro a que Genuíno Madruga deu o nome de uma das grandes figuras das letras mundiais e autor do magistral “O Velho e o Mar”, Ernest Hemingway, «O Mundo Que Eu Vi» não tráz nada de novo!

Puro engano: não só há dados ainda não escalpelizados anteriormente, não revelados ou não divulgados, ditos ou escritos, como se sente, um renovado prazer a acompanhar, outra vez, estas duas voltas ao mundo, com a particularidade, como já se disse, de nos sentirmos, também, a viajar, a transpirar e (quase) a bater o queixo de frio, a sentir as brisas e ventos nos brandais, a nos arrepiarmos nas ocasiões de maior dificuldade… Também nos sensibilizamos com as recepções organizadas pelas comunidades portuguesas espalhadas por todo o mundo, como a de Comodoro Rivadavia, na Argentina, por sinal a mais austral para os nossos conterrâneos emigrados. E sensibilizamo-nos com as recepções dos agrupamentos de escuteiros, da mesma forma que vivenciamos uma alegria estranha quando Genuíno Madruga vai à procura de populares que conhecera sete anos antes e os encontra, de novo, por altura da segunda aventura!... No relato da entrada de cada porto sentimos, igualmente, a segurança da chegada e à partida levamos a nostalgia da(s) despedida(s).

«O Mundo Que Eu Vi» não é, assim, um mero diário de bordo, embora a narrativa, de volta em quando, recorra a tal registo para nos relatar com a maior das fiabilidades o estado de espírito do autor e navegador na altura precisa em que determinado facto relevante ocorria ou acabava de ser vivido ou testemunhado.

A maior das surpresas que este livro nos provocou foi o acompanhamento, pela leitura, da viagem no trajecto entre o Cabo Horn (ou melhor, Puerto Williams) e a cidade chilena de Puerto Montt, empreendida entre Fevereiro e Março de 2008. Primeiro, ficamos com a percepção de ter sido a fase mais complicada do conjunto das duas viagens (quase trinta dias com condições muito adversas de mar, ventos, correntes, ilhas, ilhéus e baixios traiçoeiros, nevoeiros, frios e gelos, mãos inertes pelas temperaturas escassas, canseira acumulada, necessidade de manter o «Hemingway» a salvo, a cada momento, e a obrigação de prolongar ao máximo a presença do seu comandante/timoneiro ao leme… enfim, e em última instância, a luta pela superação do aviso/desafio/sentença das autoridades do fim do mundo, na Terra do Fogo: aquele percurso não poderia ser feito em menos de três meses!... O «Hemingway» completou-o em… 25 dias!!! O esforço necessário para o conseguir encontramo-lo naquelas que são – na nossa opinião – as melhores páginas desta publicação. Dali, o autor lembra, designadamente: “Junto à costa as ondas ao rebentarem de encontro às rochas levavam o mar por estas acima e por fora nos baixios aumentavam ainda mais de altura, encapelavam e rebentavam. Foi neste cenário que me apercebi claramente que a minha vida estava exclusivamente dependente do bom funcionamento do motor. (…) Nunca antes havia navegado com tais condições de tempo e em sítio tão perigoso”. Adiante, acrescenta: “Se um qualquer vivente visse o Hemingway em tais condições, certamente que não saberia distinguir se se tratava de um barco ou de um submersível. (…) Naquele dia, não sei como, enjoei mesmo sem haver comido”. Foram “vinte e cinco dias de difícil e penosa navegação, frio glacial, chuva gelada, granizo, ventos fortes e contrários, uma humidade de gelar os ossos, mar por vezes tempestuoso, ondas enormes, que não perdoariam o menor descuido”.

À chegada a Puerto Montt Madruga travou contacto com pescadores. Diz-nos: “Estavam curiosos por conhecerem o barco no qual eu tinha navegado pelos mares do Sul. (…) Vi claramente nos seus rostos admiração. Eram todos homens do mar”…

Curioso é também que, já a dois ou nove anos de distância do final de cada uma das viagens de volta ao mundo realizadas, olhemos para a história da última década e verifiquemos que Genuíno Madruga viveu a bordo do seu iate ou durante os seus percursos por terra, em escala, momentos marcantes dos tempos contemporâneos, que aqui são também lembrados, porque na altura própria foram devidamente registados: a título de exemplo, o ataque às torres gémeas do World Trade Center, em Nova Iorque (a 11 de Setembro de 2001), a queda do avião da Air France ao largo do arquipélago brasileiro de Fernando Noronha (a 1 de Junho de 2009), a tomada de posse da primeira mulher Presidente da República da Argentina (segunda na América do Sul), Cristina Fernandez Kirchner (a 11 de Dezembro de 2007), e a instituição da autonomia na ilha de Rodrigues (com participação do nosso velejador, em 2001, na primeira Assembleia Constituinte do Movimento Rodriguez), ilha pertencente à República das Maurícias, Estado independente do Reino Unido desde 1968. Noutra faceta, como se pode ler, destacadamente, neste livro, é relevada, também, a morte, em Setembro de 2008, do escritor picoense Dias de Melo que fica ligado às viagens de Genuíno Madruga, ele que havia presenciado a partida do «Hemingway» do Pico, em dia de festa de Nossa Senhora de Lourdes do ano de 2007 e dedicou dois poemas ao intrépido navegador (por isso, na altura do seu falecimento, a bandeira nacional foi colocada, por três dias, a meia-haste, a bordo do veleiro).

As efemérides da vida deste nosso ousado navegador também tiveram destaque especial além-mar durante as suas estadias em terra-firme: “O meu aniversário de 2007 foi na verdade muito especial, teve lugar no Clube Recreativo Português (…) [de Buenos Aires], estiveram presentes à volta de 800 pessoas e actuaram três grupos folclóricos”.

As viagens deste Madruga – açoriano determinado, bom-teimoso e homem-comum acima dos comuns, como aqui testemunhamos mais intensamente – foi também um especial (se calhar, único, pela dimensão, em extensão, e pela amplitude, em termos geográficos) momento de divulgação do nome dos Açores, de projecção destas pequenas ilhas no firmamento planetário e de afirmação, mais uma vez, da especial vocação das gentes de Portugal para calcorrearem o mundo, por via marítima, contra ventos e marés, contra receios, fados e profecias, contra o imobilismo e a nossa original pequenês, rectangular…

Aqui uma revelação, extraordinária: “Visitei (…) o Museu Marítimo [de Ushuaia, Argentina, última cidade austral do continente americano], onde para minha surpresa e satisfação, encontrei um bote em miniatura, em osso de cachalote, chamado «Ester», com a legenda de: Bote Baleeiro dos Açores, ilha do Faial”.

As palestras sobre os Açores sucederam-se por todo o mundo, junto de autoridades, em comunidades nacionais portuguesas emigradas, com o movimento escutista por destinatário, e, sobretudo, nas escolas, onde Genuíno Madruga ia entrando quase sem convite, sempre que a ocasião se proporcionava.

Aí se afirma outra das especiais características do relato que agora nos é presenteado: a realização do encontro de culturas no qual Portugal tem tradição antiga, de seis séculos, com resultados conhecidos, e com respeito – regra geral – pelas realidades locais e costumes nativos… Ficamos a conhecer, mais e melhor, o mundo que descobrimos no passado, que é cada vez mais globalizado, mas que conserva ainda vincadas diferenças civilizacionais, etnográficas, antropológicas, religiosas, linguísticas, políticas, sociais e económicas.

Apesar disso, Genuíno deixa-nos a ideia de que um sorriso, um abraço, um aceno ou um gesto de auxílio são iguais, aqui e acolá, a Norte e a Sul do Equador, a oriente e a ocidente do Meridiano Zero!

Como parece ser igual a simpatia dos pescadores – irmãos de profissão de Genuíno Madruga – que o navegador fez questão de ir contactando ao longo de toda(s) a(s) sua(s) viagem(ns), até para conviver com as técnicas de pesca que, naturalmente, são muitos diferenciadas de lugar para lugar, de terra para terra, de país para país, de latitude para latitude. Mas tal contacto teve também outro objectivo, vincado: dar a conhecer que um companheiro de profissão não está – nunca esteve, nem estará – limitado, apenas, pelo mar que conhece ou pelas águas em que habitualmente navega e ganha o pão. O limite de qualquer pescador e de qualquer homem do mar, em geral, é o limite dos seus sonhos, que bem podem ser ilimitados, como o autor deste livro demonstrou, no caso até por duas vezes.

Das viagens de circum-navegação de Genuíno Madruga extrai-se, assim, a conclusão que os grandes feitos estão ao alcance de qualquer um de nós, seja pescador, agricultor, comerciante, médico, advogado, arquitecto ou engenheiro... Basta (o que poucos conseguem) que se definam objectivos, se empregue toda a energia em preparar o caminho na sua direcção e se trace a rota para alcançá-los/realizá-los, com sacrifício e, sobretudo, trabalho!

Genuíno Madruga desde cedo trabalhou a sua paixão pelo mar, a ponto de adormecer nas aulas, tal o cansaço acumulado, pelas pescarias das noites… Os seus progenitores perceberam a tendência do filho ainda criança, que agora nos relata: “Pelo Natal tive como prenda uma plaina pequena em ferro, um serrote para madeira e um martelo. Certamente meus Pais souberam bem o que me ofereceram. Quando vi nas mãos aquelas ferramentas, que eram minhas, fiquei radiante. Imaginei e fiz muitas coisas, entre elas o meu barco”. E acrescenta: “No Liceu (…) sonhava com o dia em que iria com o meu barco para o mar. (…) Levei um mês a construí-lo. (…) Minha Mãe deu-me um lençol velho. Com ele fiz uma vela. (…) Só mais tarde aprendi a nadar!”

Depois, já Genuíno Madruga pensava em outras façanhas, espicaçado pelos “aventureiros” de passagem pela ilha do Faial e pelo Café Sport. Diz-nos, neste livro: “Marcel Bardiaux, que por três vezes aportou à Horta, foi aquele que conheci e mais me marcou. Em 1975, aquando da segunda passagem pela Horta, com o seu «Inox», poucas foram as conversas que consegui com este navegador e aventureiro de todos os mares. Espírito reservado e de poucas palavras. Pelo contrário, em 1998, na sua terceira e derradeira escala na Horta, onde completou 88 anos, navegando só no seu «Inox», tive a oportunidade de inúmeras conversas, bem como de receber das suas mãos os livros que escreveu e que comportam informação privilegiada das suas viagens pelo mundo e dos inúmeros locais por onde aportou. Muita desta informação foi fundamental para o êxito das minhas duas viagens à volta do mundo, principalmente a passagem do Cabo Horn”.

Noutra passagem deste livro Genuíno reconhece: “Muitos andam no mar por necessidade, porque não conseguem em outras actividades tirar o necessário provimento, pelas mais diversas razões. Poucos o fazem, tal como eu, por amor ao mar”.

Da comparação de uma para outra viagem de Genuíno Madruga (de 2002 para 2009, se atendermos às datas de chegada) outra ideia evidente se fixa daquilo que Genuíno nos conta: o mundo está em constante mudança, e assaz acelerada. Dois exemplos – a escassez de capturas de pescado que o navegador/pescador do «Hemingway» conseguiu, sobretudo ao corrico, entre a segunda e a primeira viagem à volta do globo; por outro lado, a dinâmica social que leva à transformação de cidades, portos, casas, lugares, estabelecimentos comerciais e… , até, costumes – como o autor presenciou nos atóis do Pacífico. O relato desta parte do nosso mundo também é aqui evidente e uma tal dinâmica nem sempre é por nós, que testemunhamos de perto as alterações à nossa volta, devidamente avaliada, no que interessaria ponderar: será que certas mudanças serão, mesmo, para melhor?!...

Uma palavra quase final para aquilo que salta logo à vista num primeiro vislumbre desta nova publicação: o excelente grafismo, espraiado por 212 páginas, e elevada quantidade (480) e qualidade das fotos que ilustram um texto que – devemos confessar – conhecemos até agora, apenas, em bruto, sem maquilhagem ou acompanhamento de imagem e que mesmo assim já nos impressionara, por si só. Agora mais cativados ficamos ainda!

«O Mundo Que Eu Vi», de Genuíno Madruga, é tudo isto e ainda mais que cada um verá, mas é também um documento histórico da epopeia (como se enfatiza logo em chamada de atenção de capa) do primeiro velejador português e décimo a nível mundial a realizar uma circum-navegação à vela em solitário, dobrando o Cabo Horn, em navegação no sentido do Atlântico para o Pacífico – UM FEITO SÓ ACESSIVEL AOS GRANDES MARINHEIROS. Daí o seu autor ter passado a fazer parte da «Confraria dos Capitães do Cabo Horn, do Chile».

E na história geral, particularmente a do Sul do Brasil também o «Hemingway» participou directamente, quando em Santa Catarina prestou homenagem à “maior tragédia marítima da imigração Portuguesa”, ocorrida há mais de dois séculos na Ponta dos Naufragados, “sob um forte pampero (nome dado às súbitas tempestades com vento Sul), perdendo a vida 173 açorianos e sobrevivendo somente 77”.

Tudo isto faz Madruga questionar-se, neste livro: “Quanta luta pela sobrevivência acontece neste mar que navegava? Quantas vidas dão origem a outras vidas neste meio onde nada se perde? Quantos seres vivem mais perto da superfície ou nas profundezas, que cores têm, que hábitos, como se procriam? Quantos ainda desconhecidos? E eu afinal quem sou, de onde venho e o que represento neste imenso mar? Quantas estrelas já vi nas noites estreladas? (…) E assim com os meus pensamentos, que nunca me deixam, fui passando os dias e as milhas”!

Concluímos com registos do diário de bordo do «Hemingway», o primeiro datado de Março de 2009. Diz-nos o autor, numa imagem que ilustra a viagem que este livro agora ajuda ainda mais a perpetuar: “Deixo-vos um pensamento de Henry van Dyke – «Sejam felizes com a vida porque ela vos dá a oportunidade de amarem e trabalharem e brincarem e olharem para as estrelas». Navegando em precárias condições, 1.412 milhas a Sudoeste com rumo à minha ilha, Genuíno Madruga”.

A 6 de Junho de 2009 “de volta ao Bar do Ritinha, com a minha assinatura no mapa, dei por concluída a viagem de circum-navegação” – remata Genuíno, mais à frente. Mesmo assim, confidencia: “Por mais que os meus olhos procurassem, o dia não estava completo, faltava o amigo, o grande Amigo que navegou comigo no «Hemingway» – José Dias de Melo”. O escritor açoriano nesse dia diria (disse-o efectiva e previamente para aquela ocasião): “Vens de dar a volta ao Mundo, Vens de dar a volta à Vida. (…) Um grande, um grande amor, Nossa imensa gratidão! A boca diz – só te diz, O que diz o coração!”

Ou… como também escreve Fátima Toste, que homenageou Madruga, com um poema inserto igualmente nestas páginas: “Hoje Comendador, Pescador, sonhador, Embaixador, missionário, Homem sabedor, Navegador solitário, Herói do mar, Sangue aventureiro, Em coragem – o primeiro!”

 

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